Paraenses vão às urnas decidir sobre redivisão


Primeiro ato concreto em torno da criação dos Estados do Tapajós e de Carajás  acontecerá neste domingo (11/09) em consulta popular
Artistas de Santarém realizaram um show pela emancipação do município em contraposição ao movimento “O Pará é um só” (Alexandre Fonseca)
Os 4,5 milhões de habitantes do Pará começam neste domingo  (dia 11) a discutir a emancipação dos Estados do Tapajós, na região Oeste, e do Carajás, no Sudeste. Dos 144 municípios do atual Estado, 27 poderá compor, no futuro, o Tapajós, e 39, o Carajás. A divisão do segundo maior Estado da Federação, contudo, opõem os paraenses da capital e os das regiões emancipadoras. A decisão popular será tomada hoje.

Em Belém é forte o movimento contra a emancipação dos novos Estados, uma demanda que no caso do Tapajós remonta ao tempo do Império. Os belenenses, inclusive, criaram o movimento “O Pará é um só”, que promove eventos, distribui adesivos para colar em carros e campanhas fortes nos municípios que integram a região metropolitana. O argumento deles é de que um Pará dividido é ruim para todos os municípios, pois perde poder e força nos debates no Congresso Nacional. “Como vai ficar uma Sudam, por exemplo? Nós vamos perder, além do mais o paraense é um só, uma só cultura, uma só gente. Dividir sera o fim”, afirma o economista Edilson Vieira Alves, 45, adepto da campanha “O Pará é um só”.
Na região Oeste, contudo, a esperança da divisão alimenta sonhos de desenvolvimento econômico e de maior integração com o Amazonas. “Nenhum governo do Pará teve a possibilidade de estender a gestão ao interior, não é porque eles eram ruins, maus, mas é porque não tinham condições e focaram a gestão em Belém e nos municípios do entorno”, explica o secretário do Instituto Cidadão Pelo Estado do Tapajós, Ednaldo Rodrigues. “O resultado é que estamos mais ligados a Manaus do que a Belém. Para você ter idéia dessa ligação, a cada mês partem oito barcos de Santarém para Belém e 32 de Santarém para Manaus”, completa. Ednaldo Rodrigues também cita o censo do IBGE que aponta a existência em Manaus de 300 mil paraenses. “Quase todos eles são oriundos dessa região, de Santarém, Oriximiná, Óbidos ou Juruti”.
Santarém cotada prá ser a capital do novo estado do Tapajós
O movimento pela emancipação do Tapajós já criou comitês em 20 das 27 cidades da região, mas encontra resistências em municípios como, por exemplo, Altamira, cuja população tende a votar contra. Se criado, o novo Estado no Oeste terá capital em Santarém e isso cria dificuldades com os altamirenses. “Se for ver no mapa, Altamira é mais central, no entanto Santarém é o segundo maior município do Estado, tem 350 mil habitantes e seria natural que a capital ficasse lá”, diz o professor Oristênio Vieira, morador de Juruti.
Em Óbidos a população é francamente favorável à emancipação e o problema da nova capital é relativizado pelos adeptos do SIM. É o caso do taxista Benício dos Santos Corrêa, que trabalha em Óbidos, mas é natural de Oriximiná. “Tem essa bronca com Santarém, dizem que só vai beneficiar a eles, mas se pensar bem, Óbidos será vizinho da nova capital e qualquer reclamação, podemos pegar um barco, viajar à noite, dormindo, e pela manhã vamos estar na cola do governador cobrando soluçòes”, analisa, acrescentando que é impossível fazer o mesmo com Belém, que fica a quatro dias de viagem de barco.
Aposta em novo desenvolvimento
Os defensores da emancipação do Tapajós, com capital em Santarém, reconhecem que a criação do Estado não será a “panacéia”, a solução de todos os problemas da região, mas poderá abrir caminhos de desenvolvimento de forma mais rápida e sustentável.
Na avaliação do secretário do Instituto Cidadão Pelo Estado do Tapajós, Ednaldo Rodrigues, a independência vai acelerar a obra de pavimentação da BR-163 (Santarém-Cuiabá) e consolidar o corredor de exportação de produtos do agronegócio brasileiro pela foz do rio Tapajós. De Santarém poderá ser escoada, por exemplo, toda a soja produzida no Centro-Oeste, o que diminuiria a competitividade desse transporte pelo porto graneleiro de Itacoatiara, por onde sai a soja produzida pelo grupo Maggi.
Outra vantagem vista pelos emancipadores mexe ainda mais diretamente com a economia do Amazonas. Um Estado do Tapajós poderá abrigar uma Área de Livre Comércio cujo projeto de criação encontra-se parado no Congresso Nacional. “Com uma bancada própria esse projeto andaria mais rapidamente”, diz Rodrigues. “A Área de Livre Comércio traz consigo a possibilidade de concessão de incentivos fiscais para a indústria e a criação de um Distrito Industrial aqui”, completa.
Ativista questiona argumento do Sul
Os novos Estados, de acordo com o secretário do Instituto Cidadão pelo Estado do Tapajós, Ednaldo Rodrigues, são bons para todo o Brasil, não só para eles próprios. Ele lembra que todos os grandes projetos de desenvolvimento na Amazônia são transitórios enquanto os novos estados são projetos permanentes. “A usina de Belo Monte, em Altamira, vai gerar empregos por cinco, seis anos, tempo de duração da obra, mas e depois onde vão trabalhar as 20 mil pessoas que já estão lá?”, questiona.
Ele também rebate a acusação feita por Estados do Sul de que um novo Estado criará mais despesas para a União. “Nós também somos a União. Quem cria despesa são aqueles que roubam as verbas do orçamento, recebem por obras que não executaram. Fico triste com esse tipo de argumento, é uma grande  bobagem”, conclui.
Por outro lado, a desconfiança também leva a dúvida para alguns habitantes da região Oeste do Estado do Pará. A professora Yolanda Canto, de Óbidos, diz que ainda não tem posição formada e que vai acompanhar a propaganda gratuita na rádio e na televisão para se decidir. “Dividir por dividir não adianta, o Amapá foi emancipado e até hoje está na mesma”, pondera.
Populações abandonadas
Para o jornalista Celivaldo Carneiro, a vitória no plebiscito é difícil, os adeptos do SIM terão de conquistar aproximadamente 2 milhões de votos fora de suas regiões. No entanto, o jornalista avalia que a divisão geopolítica do Brasil é um assunto que mais dia menos dia estará  na pauta do País e ai o Tapajós sera criado. “O sentimento do povo daqui é de emancipação já. O governo está muito longe dessa região, não consegue atender nossas necessidades”, avalia Celivaldo  Carneiro.
O jornalista cita exemplos desse abandono e da opção preferencial dos governos paraenses por ações na capital. “O governador Simão Jatene (PSDB) investiu R$ 4 milhões na reforma do Mangueirão (estádio de Belém) para um jogo amistoso do Brasil contra a Argentina, em 27 de setembro. Na outra ponta mandou R$ 200 mil para a Festa do Sairé, uma manifestação que acontece este mês, em Santarém, tem 352 anos de existência e está para nós como o boi bumbá de Parintins está para o Amazonas”, compara. “Quanto o Governo do Amazonas investe em Parintins? Certamente é algo na casa dos milhões”, completa.
Outro exemplo colocado por Celivaldo diz respeito a uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal que é uma promessa de solucionar o problema de abastecimento de água de Santarém, mas que está parada porque o Governo do Estado não investe a contrapartida acertada nesse contrato.
“O dinheiro do Governo Federal está parado na Caixa Econômica enquanto isso um problema que tem mais de 30 anos continua sem solução”, afirma  o jornalista.
Se aprovada a emancipação de Tapajós e Carajás, a discussão sobe para regulamentação no Congresso Nacional e posterior sanção da presidente Dilma Rousseff. A expectativa dos que defendem a nova divisão é de que em 2014 eles possam eleger os primeiros governadores do Estado e representantes nas Casas Legislativas.
com informações: A Crítica

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Paraenses vão às urnas decidir sobre redivisão
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