O poder é instável

Juazeiro do Norte tem uma das conjunturas políticas mais turbulentas da política cearense
 (Fco Fontenele)
                                                                                               Foto: Francisco Fontenel
A ciência política aponta a fragilidade como característica histórica das elites cearenses. Juazeiro do Norte parecia fugir, em certa medida, a essa regra. A trajetória da cidade foi marcada por longas hegemonias de grupos familiares. Mas a aparência de estabilidade era ilusória. Com a consolidação institucional pós-redemocratização, ficou patente quão instáveis eram as bases da histórica dominação. Sem o alicerce autoritário do período ditatorial, a alternância permanente de poder e as rupturas internas nas forças partidárias passaram a ser a marca das eleições no município mais importante do Cariri.
Caso raro na política estadual, nenhum governante juazeirense conseguiu até hoje conquistar dois mandatos consecutivos – a reeleição passou a ser permitida em 2000. A natureza conflituosa e autofágica dos grupos políticos ficou explícita a partir de dentro dos próprios partidos.
Nem sempre foi assim. Houve época de governos continuados e poderes concentrados. Já a partir da emancipação. A história do poder em Juazeiro do Norte gira em torno de Cícero Romão Batista. O próprio padre foi primeiro prefeito e ficou no cargo entre 1911 e 1927 – com breve intervalo no qual foi destituído, em 1914, retornando após a Sedição de Juazeiro. Foi o homem que mais tempo administrou a cidade.
Pós-Cícero
Depois da morte do Padre Cícero, o encanto, fascínio e poder mobilizador de sua figura só cresceram. Todos os prefeitos seguintes se valeram de sua imagem para conquistar e manter a influência.
Formaram-se três pólos principais de poder: os Cruz, os Sampaio e, principalmente, os Bezerra de Menezes. Por mais de 50 anos, esses grupos mantiveram controle praticamente absoluto sobre Juazeiro do Norte, com o poder municipal, representação na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados e, com Adauto Bezerra, até o comando do Governo do Estado.
Com a redemocratização, as rupturas tornaram-se mais frequentes e ficou explícito o quanto o poder concentrado até então era fruto de velhas práticas políticas, do paternalismo e da estrutura autoritária que era gradualmente desmontada. A partir de meados dos anos 1990, a dificuldade para se manter o poder uma vez conquistado tornou-se patente. E abriu-se espaço para que novos atores ganhassem espaço.
Em 1996, Mauro Sampaio se elegeu pelo PDT, no último grande pacto entre as mais tradicionais famílias. Mas, na busca pela reeleição, a aliança ruiu. Os Bezerra de Menezes apoiaram o ex-prefeito Carlos Cruz, do antigo PFL. Ao mesmo tempo, o PT apresentava-se, pela primeira vez, como força relevante. A candidata era a professora Iris Tavares, que mais tarde seria deputada estadual. Ela obteria um surpreendente segundo lugar, atrás de Carlos Cruz. Mauro Sampaio, que concorria pelo extinto PSD, ficou em terceiro.
Em 2004, foi a vez de Carlos Cruz ver frustrada sua tentativa de reeleição. Pouco a pouco, Juazeiro do Norte começava a se tornar um dos mais bem acabados exemplos, em terras cearenses, da polarização nacional entre PT e PSDB. Desde aquela eleição, os dois partidos passaram a dar atenção especial ao Cariri – Juazeiro em particular – em suas estratégias de campanha. E a se revezar no poder.
Do lado dos tucanos, o candidato foi o médico Raimundo Macedo, o Raimundão. Deputado estadual, era personagem relativamente novo na política do Município – ingressara na vida pública no fim dos anos 80 – embora fosse próximo aos tradicionais mandatários. Já havia sido eleito vice do próprio Carlos Cruz no primeiro mandato do então prefeito, em 1988.
Já o PT demonstrava que a instabilidade atingia até mesmo o interior das forças emergentes. Iris Tavares, fenômeno na eleição de quatro anos antes, não conseguiu legenda no pleito seguinte. Quem representou o PT na disputa de 2004 foi o então vereador Manoel Santana. O desempenho foi discreto. Ficou atrás do vencedor, Raimundão, e de Carlos Cruz. Mas Santana começava a construir as bases para sua vitória dali a quatro anos.
Em 2008, foi Raimundão quem não conseguiu legenda. Em votação convenção realizada em pé de guerra, teve negado pelo PSDB o direito a postular novo mandato. O escolhido para concorrer foi Manoel Salviano, industrial do ramo farmacêutico, deputado federal e ex-prefeito, também com relações com as velhas oligarquias.
Raimundão, em retaliação, apoiou a candidatura do principal adversário – o petista Manoel Santana, que ele derrotará quatro anos antes. Além deles, Carlos Cruz também foi candidato. Mas o vitorioso foi mesmo o petista.
A administração de Santana foi marcada pela turbulência e os conflitos. Em guerra com a Câmara Municipal, chegou a sofrer impeachment, mas reverteu a decisão na Justiça. Enfraquecido, chegou a anunciar que não seria candidato à reeleição em 2012. Mas o cenário mudou e aliados afirmam que ele deve, sim, concorrer. Raimundão também trabalha para ser candidato.
O governador Cid Gomes (PSB), adepto da conciliação, chegou a iniciar bem cedo as conversas, na tentativa de unificar os partidos de sua base no Município. Fracassou. A tendência é de que o Palácio de Abolição não se envolva em mais uma eleição que promete ser marcada pela imprevisibilidade. E, salvo nova investida do governador, pela pulverização de candidaturas.
Érico Firmo é Editor Adjunto do Núcleo de Conjuntura - O Povo.

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O poder é instável
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